Especialistas em cibersegurança explicam por que desligar rapidamente o Especialistas em cibersegurança explicam por que desligar rapidamente o telemóvel é a pior maneira de acabar com as chamadas comerciais incómodas é a pior maneira de acabar com as chamadas comerciais incómodas

É meio da tarde. O telemóvel toca. Não reconhece o número, mas atende. Do outro lado, alguns segundos de silêncio. Depois, uma voz que demora a começar. Não está interessado no que diz ou, pior ainda, não diz nada. Desliga sem pensar. Sente que fez a coisa certa, como quem se livra de uma mosca irritante. Mas o que acabou de fazer, segundo vários especialistas em cibersegurança, pode ser exatamente o que esse sistema esperava de si.

A ameaça das chamadas de spam telefónico não parou de crescer em Portugal nos últimos anos. Apesar das aplicações de bloqueio, dos filtros automáticos dos smartphones e das medidas do próprio governo para reduzir o seu impacto, as chamadas indesejadas continuam a entrar na nossa vida quotidiana. E fazem-no com uma insistência que já não responde apenas a agendas humanas, mas a algoritmos concebidos para estudar os nossos hábitos.

Nesta nova realidade digital, em que muitas chamadas não provêm de pessoas, mas de inteligências artificiais, as nossas reações têm mais peso do que imaginamos. Desligar imediatamente — o que a maioria de nós faria sem hesitar — não representa um «não» para estes sistemas. Muito pelo contrário: é um sinal de que o número existe, que alguém atendeu e que, talvez, possa estar disponível noutro momento.

Um ato reflexo

As novas tecnologias aplicadas ao telemarketing desenvolveram sistemas automatizados capazes de interpretar padrões de comportamento em tempo real. Quando detectam que alguém desliga sem mais, classificam-no como «utilizador ativo não disponível», o que dispara novas chamadas de outros números ou em horários diferentes. Assim começa o ciclo: atendemos, desligamos, recebemos a chamada novamente.

Muitos utilizadores acreditam que desligar imediatamente é uma forma de cortar o problema pela raiz, mas, na verdade, estão a fornecer a esses sistemas exatamente o tipo de dados de que precisam para continuar insistindo, afirmam os especialistas em segurança digital. O facto de não ter havido uma recusa verbal clara leva o algoritmo a pensar que o utilizador não está totalmente fechado a receber a chamada. E é por isso que ele tenta repetidamente.

Além disso, muitas dessas chamadas não têm como único objetivo vender um produto. Elas também servem para traçar perfis de comportamento, testar horários, verificar números ativos ou até mesmo compartilhar dados com outras empresas. É por isso que, após receber uma chamada de spam de um determinado setor, muitas pessoas começam a receber outras semelhantes nos dias seguintes.

O que fazer então?

A estratégia mais eficaz não é cortar a comunicação, mas controlá-la. Responder com calma, manter a educação e recusar educadamente a oferta costuma dar melhores resultados. Uma frase clara como «não estou interessado, por favor, eliminem o meu número da vossa base de dados» é interpretada nestes sistemas como uma resposta negativa explícita. Isso marca o número como não viável para futuras chamadas por parte dessa empresa específica.

 

Este tipo de resposta, embora pareça simples, pode ter um impacto direto na quantidade de chamadas que recebemos. Porque, embora muitas empresas utilizem sistemas automáticos, também devem cumprir certas regulamentações que as obrigam a evitar insistências desnecessárias depois de o utilizador ter manifestado a sua recusa.

Também é aconselhável evitar responder a perguntas, mesmo que seja para recusar o que nos oferecem. Aos olhos do sistema, qualquer tipo de interação verbal pode ser interpretada como interesse ou disponibilidade, o que aumenta a probabilidade de aparecer em outras listas de contacto.

E, claro, nunca devemos fornecer dados pessoais. Nem nome completo, nem endereço, nem data de nascimento, nem informações bancárias. Muitas dessas chamadas servem precisamente para recolher informações que depois são revendidas ou utilizadas em campanhas mais agressivas, quando não diretamente fraudulentas.

Ferramentas que ajudam (e outras nem tanto)

Uma das medidas mais recomendáveis é inscrever-se na Lista Robinson, um serviço gratuito gerido pela Associação Espanhola de Economia Digital. Esta ferramenta permite aos cidadãos manifestar a sua vontade de não receber comunicações comerciais de empresas com as quais não mantêm qualquer relação contratual. As empresas legais têm a obrigação de consultar esta lista antes de lançar uma campanha.

No entanto, esta proteção não cobre todos os casos. Muitas das chamadas provêm de empresas que operam à margem da lei ou de países que não respeitam as normas europeias. É nestes casos que as aplicações de bloqueio ou os filtros oferecidos por algumas operadoras ganham maior relevância.

Operadoras como Movistar, Vodafone ou Orange já oferecem sistemas de proteção adicionais que podem ser ativados gratuitamente e permitem bloquear automaticamente chamadas de números suspeitos ou desconhecidos, com base em bases de dados partilhadas de spam telefónico.

E se tudo isso falhar, ainda resta uma via mais formal: denunciar. A Agência Espanhola de Proteção de Dados permite apresentar reclamações contra empresas que violam os direitos dos utilizadores, especialmente se já estivermos inscritos na Lista Robinson. Estas reclamações podem resultar em sanções económicas para as empresas responsáveis e contribuir para travar este tipo de práticas.

Mila Alieva/ author of the article

Olá, sou Mila e adoro compartilhar dicas úteis através de minhas artigos. Aqui, você encontrará informações que facilitam o dia a dia!

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