O ex-funcionário britânico Steve Mills, de 67 anos, nunca imaginou que o seu gosto por livros em segunda mão o levaria a reencontrar o passado da sua família. O que começou como uma tentativa de recuperar memórias da infância acabou por revelar uma história que parecia impossível.
«Durante 50 anos, o livro percorreu o país, fazendo sabe-se lá o quê, e depois voltou para mim», contou Mills ao The New York Times. A descoberta aconteceu na sua casa em Hockley, a leste de Londres, enquanto folheava uma edição antiga de A menina mais travessa outra vez, da autora Enid Blyton.
Também pode seguir-nos no nosso canal do WhatsApp e no Facebook
Entre as páginas, encontrou notas escritas por uma menina há mais de meio século. Ao observar com mais atenção, reconheceu um endereço escrito com letra infantil. Era a cidade onde sua esposa, Karen Mills, cresceu e, depois de mostrar a ela, ambos compreenderam que o livro era dela.
“Meu Deus, isso foi escrito por mim e pelo meu irmão”
A esposa, de 60 anos, estava hospitalizada a recuperar de uma doença quando recebeu o livro. «No início, pensei que ele era um tolo», recordou. «Na verdade, perguntei-lhe: “Estás a tentar escrever mal a nossa primeira morada?”».
Mas depois de examinar com mais atenção, reconheceu a sua própria caligrafia e a do seu irmão, Mark: «Meu Deus, isto foi escrito por mim e pelo meu irmão quando tínhamos 9 e 10 anos».
As páginas do livro continham figuras de palitos representando os membros da família, horários escolares, páginas dobradas, anotações a lápis e marcador, e um esboço de uma pequena Karen com sardas. «Ficámos os dois sentados, bastante espantados», afirmou Steve.
Um percurso impossível de rastrear
O livro tinha sido doado pelos pais de Karen, Brenda e David Larden, ambos com 87 anos, por volta de 1975, quando a família se mudou de Staffordshire, a 274 quilómetros de Hockley.
Segundo eles, provavelmente entregaram-no numa recolha da igreja ou da escola. Desde então, o livro teria passado por inúmeras estantes em diferentes casas na Inglaterra.
«Nunca saberemos quantas crianças o leram nem por quantas cidades passou», acrescentou Mills, mas o certo é que o livro voltou às mãos da sua dona original.
Mais livros, mais memórias
A descoberta inicial foi apenas o começo. Dias depois, o homem revisou outros livros do mesmo lote e encontrou mais títulos com o nome da sua esposa e desenhos feitos por ela e pelo seu irmão.
Entre eles, mais duas obras de Enid Blyton: As aventuras de Pip e Os Cinco: Cinco na ilha do tesouro. Este último tinha um valor simbólico adicional, pois era um dos livros favoritos da infância do próprio Mills.
«O objetivo do exercício era tentar recuperar algumas memórias da minha infância», explicou. «Mas não esperava recuperar as da minha esposa», acrescentou.
Uma busca ainda em aberto
Um dos livros encontrados continha uma mensagem na contracapa: «Tenho 12 livros de Enid Blyton». Até agora, recuperaram três. «Isso deixa-me com outros nove para tentar encontrar agora», afirmou Mills, decidido a continuar a busca.
Para ele, cada exemplar é mais do que um objeto: é um testemunho de uma vida partilhada. «Os livros adquiriram um novo significado. Já não são apenas parte da minha infância, mas da história comum que construímos», concluiu.
